Bruno entrou no Uber, cumprimentou o motorista, e como de costume, iniciou uma conversa casual. Ele sempre fazia isso. Não apenas para tornar a viagem mais agradável, mas para estudar padrões de pensamento das pessoas.

 

Após algumas trocas de gentilezas, Bruno lançou a pergunta:

— Qual o seu nome e há quanto tempo trabalha no Uber?

 

— Meu nome é Jonas — respondeu o motorista, e a conversa começou a fluir naturalmente.

 

Bruno conduziu a conversa com cuidado, observando como Jonas enxergava certos conceitos. Então, em um momento estratégico, lançou outra pergunta. Afinal, a base mais profunda do seu trabalho sempre foi perguntar, pois as perguntas ajudam as pessoas a expressar o que realmente pensam.

 

— Na minha atividade com hipnose, trabalho muito com padrões de pensamento  — disse Bruno.

 

O motorista olhou pelo retrovisor.

— Padrões de pensamento?

 

Bruno assentiu, mas esperou para ver a reação.

— Ah, cara… se tem um padrão de pensamento que eu queria mudar, é essa mania de ficar mal quando um cliente cancela uma corrida.

 

— Você sente que isso te afeta muito?

 

— Sim, eu sei até que é normal! Mas quando alguém cancela uma corrida, sinto como se tivesse feito algo errado, sabe? Isso fica na minha cabeça por horas… às vezes, dias. Eu sei que parece loucura, mas simplesmente acontece, e eu não sei o que fazer, sabe?

 

Bruno sorriu levemente.

— Você aceita tentar a lógica reversa? Pode ser uma prática útil para você.

 

Sem pensar muito sobre o que era essa tal de lógica reversa, Jonas respondeu de imediato:

 

— Sim, aceito.

 

— Então repita comigo… “Eu aceito fazer lógica reversa” — disse Bruno.

 

— Eu aceito fazer lógica reversa — repetiu Jonas.

 

— Mantenha os olhos atentos ao trânsito — disse Bruno. — Agora, repita em voz alta comigo… “Se um cliente desiste, isso pode me matar.”

 

O motorista começou a repetir, mas parou após alguns segundos. Nada tinha acontecido.

 

— Continue — incentivou Bruno.

 

Jonas retomou:

— Se um cliente desiste, isso pode me matar…

 

Bruno o observou atentamente repetindo.

 

— O que está acontecendo em sua mente? — perguntou Bruno após algumas repetições.

 

O motorista franziu a testa.

— Nada. Nada está acontecendo.

 

— Você aceita continuar repetindo?

 

A resposta era previsível para Bruno. O motorista continuou, mas, de repente, parou. Seu rosto se contorceu por um instante… e então caiu na risada.

 

Bruno sorriu de leve. Ele esperava por algo semelhante. O colapso de uma crença limitante normalmente se manifesta com lógica reversa, às vezes instantaneamente, outras vezes, pode demorar um pouco mais, depende de quão profundamente ela estava enraizada.

 

— Isso não faz sentido nenhum! Não pode me matar. É só um cancelamento! — exclamou Jonas, tomando consciência de um sentimento sem sentido.

 

Bruno manteve o olhar tranquilo.

— Exato. Agora me diga… quanto tempo você levava para superar um cancelamento de um cliente?

 

O motorista parou, pensativo.

 

— Nunca medi isso… mas ficava grudado na minha cabeça, sabe, como se de alguma forma eu fosse culpado. Acho que por dias. Eu nem sabia que dava para me livrar disso.

 

Bruno balançou a cabeça com um meio sorriso.

 

— Na verdade, você colapsou o padrão de pensamento e, quando isso acontece, a crença limitante por trás dele começa a enfraquecer. As crenças limitantes que carregamos foram criadas por nossa mente em algum momento do nosso passado, e da mesma forma que foram construídas, podem ser desfeitas pela própria mente através da lógica reversa.

 

Bruno fez uma breve pausa:

— E se um cliente cancelar agora, o que você vai fazer?

 

— Vou fazer lógica reversa.

 

— E o que a lógica reversa fará por você? — Bruno buscava instalar essa percepção na mente de Jonas.

 

— Acho que vai desgrudar isso da minha cabeça instantaneamente — disse Jonas.

 

Bruno assentiu.

— Agora, me diga… o que você acha que vai acontecer se você praticar isso nas próximas semanas?

 

O motorista franziu a testa.

— Não sei…

 

— Eu posso dizer o que eu acho? — Bruno pede permissão para falar sobre o que pensa.

 

— Claro — disse Jonas. Quando Jonas dá permissão, ouvirá com mais atenção.

 

— O que acontece quando uma criança aprende a andar de bicicleta? — Perguntou Bruno.

 

— No começo, é difícil, até pode cair algumas vezes, mas depois ela faz sem pensar — respondeu Jonas.

 

Bruno sorriu e explicou.

— O processo de aprender a andar de bicicleta pode ser chamado de instalação. Quando você desenvolve um novo padrão, ele se instala na mente e se torna automático. Mas tem um detalhe importante… se você apenas remover um padrão antigo, pode ser importante instalar algo no lugar. 

 

— Como assim? — quis saber Jonas.

 

— Sua mente é como a água. Sempre encontra um caminho para preencher os espaços vazios. Se chove muito, os lugares mais baixos enchem primeiro. Se você tira um padrão negativo antigo, mas não coloca algo no lugar, a mente pode preencher com outro pensamento negativo.

 

O motorista ficou pensativo.

— Então, se eu percebo que algo ruim está preenchendo o espaço, o que eu faço?

 

— Continua usando a lógica reversa até que o novo padrão se instale completamente. E então, o novo padrão vai preencher o lugar.

 

O motorista assentiu, parecendo absorver a informação.

 

— Isso faz todo sentido! Se eu instalar algo bom no lugar… isso pode mudar a minha vida.

 

Bruno sorriu.

— Exato. Agora você percebeu por meio de sua mente racional que não faz sentido sofrer pelo cancelamento de um cliente. Da próxima vez que isso acontecer, sua mente racional vai interferir no padrão emocional gerado pela crença limitante. A cada vez que a emoção negativa surgir, um novo padrão de pensamento vai começar a se formar.

 

Agora me diga… vale a pena esse esforço, de continuar praticando lógica reversa?

 

O motorista sorriu.  

 

— Nossa, claro! Minha vida vai mudar! E algo que não te contei é que a cada nova chamada, eu sentia um receio de que o cliente poderia cancelar. Era muito desagradável. Cheguei até a cogitar desistir dessa atividade. Mas agora já me sinto mais animado. Poxa, cara, valeu mesmo!

 

— Vai mudar para melhor? — Bruno aprofundou a percepção com uma pergunta.

 

— Sim! — respondeu Jonas com firmeza.

 

— Então repita, “com lógica reversa, minha vida vai mudar para melhor”. Ele repetiu.

 

O GPS anunciou: “Seu destino está à sua direita.”

 

O carro parou. O motorista, agora mudado, ainda parecia absorver tudo.

 

Bruno pegou um cartão de visita e entregou a ele.

— Você pode questionar os pensamentos que grudam na sua cabeça, dessa forma você vai deixar de ser refém deles. E agora você sabe como soltá-los.

 

O motorista segurou o cartão por alguns segundos, olhando para Bruno, sem saber o que dizer. Bruno estava ajudando a transformar mais uma vida com o poder do seu conhecimento.

 

— Cara, eu nunca tinha pensado nisso assim — disse Jonas, ainda surpreso.

 

Bruno apenas sorriu e saiu do carro.

 

Uma semente foi lançada.

 

Bruno seguiu para a sala de aula.

 

 

O que é a lógica reversa e porque ela funciona?

A lógica reversa é um processo que desmonta padrões de pensamento limitantes ao confrontá-los diretamente com sua própria irracionalidade.

Ela funciona porque a mente, ao tentar sustentar uma crença ilógica quando exposta de forma extrema, entra em um colapso cognitivo. Isso faz com que a mente reconheça a inconsistência do sentimento limitante, permitindo sua dissolução.

Dessa forma, a lógica reversa não apenas elimina padrões negativos, mas também abre espaço para que novos padrões fortalecedores sejam instalados, garantindo uma mudança real e duradoura.

 

 

Nota ao leitor:

O conhecimento que você está recebendo será construído passo a passo, do simples ao complexo, aos poucos. Pode parecer que há mais a ser explorado – e há, muito mais –, mas a expansão do conceito estudado será introduzida no momento certo, em um estágio mais avançado do curso. Isso permite que sua mente absorva o aprendizado de forma natural e sem sobrecarga, garantindo uma compreensão clara e uma transformação profunda. Como uma criança que aprende a falar de forma natural e sem esforço, cada nova ideia surgirá no tempo certo.